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Por que seria importante ter agentes antibacterianos nos adesivos?

Antes de responder essa pergunta, precisamos relembrar o que é um adesivo. Adesivo vem de adesão!


Mas o que é adesão? Adesão é uma propriedade da matéria pela qual se unem duas superfícies quando entram em contato, e se mantém juntas por forças intermoleculares. Na odontologia, as superfícies são o dente e a resina. Portanto, entre o dente e a resina teremos um adesivo unindo essas duas superfícies.


Atualmente, muitos cirurgiões-dentistas e escolas de odontologia têm preconizado a realização da mínima intervenção, ou seja, um preparo cavitário conservador, no qual se remove apenas a dentina infectada, preservando na cavidade dentária a dentina contaminada (veja a diferença na Tabela 1).


Tabela 1. Diferenças básicas entre dentina infectada e dentina contaminada


Acredita-se que a dentina contaminada seja capaz de remineralizar, sendo que as bactérias presentes “morreriam” com o vedamento da cavidade. Porém, existem muitas controvérsias em relação a isso, e nesse contexto estaria a importância de haver um adesivo com propriedades antibacterianas! O adesivo antibacteriano poderia reduzir a desmineralização ao redor de bráquetes ortodônticos e restaurações, exercendo atividade anti-biofilme na interface dente-restauração, como também eliminar as bactérias residuais cariogênicas (Veja a Figura 1).


Figura 1. Elemento dental cariado com a presença das dentinas infectada e contaminada. Para a realização da restauração, apenas a dentina infectada foi removida (camada mais superficial). Bactérias cariogênicas podem permanecerem na cavidade. Restauração com falha: entrada para novas bactérias?


Dessa maneira muitos pesquisadores têm adicionado partículas/agentes ou monômeros antibacterianos em sistemas adesivos. Entre as partículas/agentes, os mais encontrados na literatura são a prata, o zinco, os óleos essenciais, o quartenário de amônia, a clorexidina e o flúor. As partículas possuem a vantagem de serem lixiviadas, ou seja, como elas não estão presas na matriz polimérica, são liberadas para exercer efeito antibacteriano. A lixiviação das partículas/agentes poderia ter efeito antibacteriano à longa distância. No entanto, existe uma dificuldade de controlar a cinética de liberação, que poderia diminuir o potencial antibacteriano com o tempo, além de afetar as propriedades mecânicas e ser tóxico aos tecidos orais.


Já os monômeros, como por exemplo o MDPB, o DMAE, e os metacrilatos metálicos de maneira geral, não sofrem lixiviação, pois são capazes de co-polimerizarem com outros monômeros, se reticulando na matriz polimérica e apresentando ação antibacteriana em longo prazo (Figura 2). No entanto, como estão presos na matriz polimérica, os monômeros atuam apenas em contato com as bactérias. Em estudos mais recentes, os pesquisadores têm testado incorporar tanto as partículas quanto os monômeros antibacterianos em materiais dentários a fim de potencializar o efeito antimicrobiano, e resultados in vitro favoráveis já foram evidenciados.


Figura 2. Monômero antibacteriano (MDPB) reticulado na matriz polimérica.


Sistemas adesivos antibacterianos parecem ser promissores no combate às bactérias residuais e às bactérias nas margens de restaurações. Porém existem apenas estudos in vitro e em curto prazo mostrando esse potencial. Além disso, existe apenas um sistema adesivo no mercado contendo monômeros antibacterianos: o MDPB no Cearfil Protect Bond (Figura 3). E na literatura podemos encontrar apenas 2 estudos in vivo e um in situ avaliando o efeito desses adesivos. São necessários mais estudos em longo prazo e clínicos para evidenciar se tais adesivos realmente seriam benéficos quanto ao efeito antimicrobiano.


Figura 3. Sistema adesivo comercial com presença do monômero antibacteriano MDPB.


Se você quiser saber mais sobre o assunto, dê uma olhada em alguns estudos recentes realizados pelo nosso grupo de pesquisa sobre o tópico: partículas e monômeros antibacterianos!


1. A systematic review about antibacterial monomers used in dental adhesive systems: Current status and further prospects. Alexandra Rubin Cocco, Wellington Luiz de Oliveira da Rosa, Adriana Fernandes da Silva, Rafael Guerra Lund, Evandro Piva. Dental Materials, 2015.


2. Self-etching dental adhesive containing a natural essential oil: anti-biofouling performance and mechanical properties. Sonia Luque Peralta, Pedro Carvalho, Françoise van de Sande, Claudio Pereira , Evandro Piva, Rafael Guerra Lund. Biofouling, 2013.


3. Characterization of an antimicrobial dental resin adhesive containing zinc methacrylate. Sandrina Henn, Fernanda Nedel, Rodrigo Varella de Carvalho, Rafael Guerra Lund, Maximiliano Sergio Cenci, Tatiana Pereira-Cenci, Flávio Fernando Demarco, Evandro Piva. Journal of Materials Science, 2011.


Por Alexandra Rubin Cocco

Formada em Odontologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

Mestre em Dentística pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

Doutoranda em Dentística pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel)




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